terça-feira, setembro 13, 2005

Ontem, alugamos o "Antes do Anoitecer"...

... porque não conseguimos ir ver o "Há festa na Aldeia" do Tati (que hoje ainda vai estar no Nimas no ciclo "A casa do cinema francês"), porque o meu-mais-que-tudo ainda não tinha visto e porque eu adorei vê-lo e gostava de o rever...
Vi-o na cerimónia de abertura do IndieLisboa 2004 no saudoso S. Jorge, na sala grande (cerca de 800 lugares) cheia de gente mas completamente sózinha... apesar, de gostar muito de ir ao cinema sózinha, porque considero que o cinema, tal como a música, são momentos muito individuais, custou-me imenso ver AQUELE filme de uma forma tão solitária... devia estar numa altura lamechas :)
Bem, a verdade é que também estava muito ansiosa... apesar de ser relativamente mais nova que os personagens e actores do filme, quando vi o "Antes do Amanhecer", tinha acabado de fazer o interrail, o que me fez ficar num estado de melancolia extremo... percebia tudo o que eles diziam porque tinha tido conversas e sentimentos semelhantes... como eles também envelheci, passando a olhar a vida, o amor e o futuro de uma forma mais cinica também... embora, passem a vida a chamar-me "naif", confesso que gostava de me sentir muito mais, como já o fui no passado... e não tenho a desculpa de ter deixado todo o meu romantismo numa noite em Viena...
Enfim, na altura colaborava com um site de cinema, os Cinéfilos.tv, e escrevi uma critica que foi mais tarde adaptada para a estreia comercial do filme... aqui fica:

Antes do Anoitecer / Before sunset
Como o realizador (Richard Linklater) e os actores (Ethan Hawke e Julie Delpy) frisaram no passado Festival de Berlim, “Before sunset / Antes do anoitecer” é uma “continuação” do “Antes do amanhecer” de 1994, uma vez que consideraram o termo sequela demasiado comercial para um filme deste tipo. Para quem não se lembra, o primeiro filme tinha como história um encontro entre um interrailer americano (Hawke) e uma francesa (Delpy) num comboio a caminho de Viena. Depois de meterem conversa, criam uma empatia tal que em meia dúzia de horas, vagueiam pela cidade, divagando sobre os seus sentimentos, experiências, expectativas, medos… e um romance nasce em contra relógio com o amanhecer. Combinam encontrar-se 6 meses depois…

Passados 9 anos, já na casa dos trinta, encontram-se em Paris. E é daqui que parte “Before sunset / Antes do anoitecer”, recriando em tempo real a 1h30 que eles têm para pôr as suas vidas em dia, desta vez em contra relógio com o pôr-do-sol.

Antes de mais, o “Antes do Amanhecer” era um hino à liberdade que se sente numa viagem como um interrail. Andar semanas de comboio sem amarras pela Europa, com tempo e disponibilidade para perder horas a fio a olhar pela janela e a reflectir sobre tudo… aquela fase pré-adulta ainda sem grandes responsabilidades, onde uma viagem pode mudar completamente o rumo das nossas vidas. Nesse filme, Hawke e Delpy falam e falam e falam… é esse o segredo do argumento, conversas com o despojamento próprio de quem não se conhece, não tem ideias pré-concebidas e não tem nada a perder.

Em “Before sunset”, os actores e realizador estão mais velhos e mais cínicos em relação ao amor e foi essa evolução que quiseram fazer passar com um argumento escrito a seis mãos filmado em cerca de 15 dias.

Depois de tanto se ter falado no envelhecimento do par indie mais romântico de que há memória, a verdade é que o tempo passou realmente por eles. Estão os dois mais magros (sem aquele ar juvenil resplandecente), têm muito mais rugas (que a câmara não se inibe de mostrar) mas a dúvidas existenciais aumentaram…

…dúvidas essas que também existem nesta geração-público que tanto o aguardava por ter ficado tão fascinado com o “Antes do Anoitecer”. E é esse o grande trunfo deste filme! Apesar de ser um filme que vai agradar a uma grande variedade de público, não tem grandes pretensões e faz passar o real envolvimento de todos os seus intervenientes em mostrar o que o tempo fez a esta geração.

O acompanhamento em tempo real de um casal que não passou junto a passagem de jovens adultos sonhadores a adultos cínicos e entorpecidos, ainda torna mais credível a sua (re)descoberta. E a verdade é que nós também envelhecemos e também passamos a ver tudo de maneira diferente, principalmente o amor! E é por isso que este “Before sunset” não decepciona em nada, porque toda aquela energia divagadora (“tudo aquilo que todos nós pensamos mas que nunca sabemos como o dizer”) continua a fazer total sentido…
Rita Sá

p.s. Convém não esquecer que este par já teve uma breve continuação numa aparição no inesquecível “Waking life” (também de Richard Linklater) como um desenho desfocado no meio de uma espiral filosófica de divagação (filme que passou num ciclo de animação programado pela Zero em Comportamento no Cine222).

3 Comments:

Blogger arte-i-factos tem a dizer o seguinte...

Linda...fui contigo ver o filme...
:(:( depois fomos no meu carro para casa...estavamos as duas meias perturbadas, emocionadas, e a divagar sobre o AMOR...
apesar de não ido sozinha, VISTE o filme sozinha pois cada um vê um mesmo filme à sua própria maneira...

bjos

10:50 da manhã  
Blogger Floppy tem a dizer o seguinte...

sim, fomos juntas mas lembraste que cada uma ficou na sua ponta da sala? e que eu estava pronta a explodir em pranto quando o filme acabou?... foi uma altura realmente lamechas...

naquele filme, gostava que tivesses estado ao meu lado porque, não sei bem porquê, acho que teria sido mais fácil...

foi como o "a minha vida sem mim"... estavamos juntas e custou mto menos...

12:01 da tarde  
Anonymous Anónimo tem a dizer o seguinte...

É daqueles filmes que nem parece um filme... parece uma conversa me tempo real! é BONITO,...e claro bastante romântico

12:53 da tarde  

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