terça-feira, fevereiro 06, 2007

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O encerramento da Eco-comunidade e Associação Terramada
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Para mais informações:
- nelson@nelsonavelar.com
- http://permacultura.nelsonavelar.com
- http://portugal.ecovillage.org

“Caros Amigos,

esta edição do Notícias Permanentes tem um carácter especial e infelizmente com uma notícia não tão permanente, mas natural em qualquer processo de mudança.

Como já devem ter lido no título desta única notícia do Notícias Permanentes 8, a Terramada vai encerrar. Após 20 anos nos montes desertificados do interior do Algarve, a reflorestar e a recuperar o solo através da ética e princípios de Permacultura, os actuais residentes, Genevieve, Guy, Melissa Roguier e Nelson Avelar decidem, com muito custo, terminar a Associação e a vivência no território.

Perguntar-se-ão, "mas porquê?

De facto, após tantos anos de sucesso no terreno, criou-se um oásis que a cada ano que passa é mais bonito e produtivo em muitos aspectos, mas tal empreendimento tornou-se megalómano com 8 hectares de território e estruturas inerentes para apenas 3 adultos e uma criança manterem, adultos dos quais a idade e o desgaste não perdoam pelo que as tarefas diárias só de manutenção ficam muito aquém do que é necessário fazer.

"Cuidar da Terra."

Nos últimos 4 anos a Terramada passou a ser pensada, planificada e implementada de forma a que evoluísse para uma ecoaldeia onde várias famílias pudessem viver. De facto tudo decorreu satisfatoriamente nos primeiros tempos e por cá passaram vários novos amigos que aqui residiram por espaços de tempo entre um mês a um ano. Mas, a dureza do território e a falta de soluções que cada um tinha de encontrar para aqui sobreviver economicamente levou à saída dos residentes um por um.

É paradoxal mas a Terramada encerra porque teve sucesso. Hoje temos uma agenda crescente de visitantes desde escolas, instituições públicas e privadas, particulares, de todas as nacionalidades, a tal ponto que não temos "mãos-a-medir" com os afazeres logísticos, estruturais, organizacionais para dar vazão a este crescente interesse nas visitas à Terramada. Como consequência disto, economicamente, territorialmente e até mesmo politicamente tudo está a melhorar existindo várias excelentes oportunidades de a Terramada como Ecoaldeia se tornar auto-suficiente em termos económicos. Mas, nesta fase, tal empreendimento necessita de mãos práticas, de empenho, de dedicação, coragem, criatividade, persistência, espírito pioneiro, inovação, de saber fazer, mas acima de tudo de gentes que acreditem e façam a longo prazo.

"Cuidar das pessoas."

Dito assim parece tudo muito prometedor para o futuro na Ecoaldeia Terramada, mas a realidade actual é que com tantos novos amigos a passar por aqui, torna-se humanamente impossível para três pessoas continuarem a levar a cabo as centenas de tarefas no terreno exponenciadas por outras tantas de ordem social, legal, económica, educacionai, comunicativa, entre muitas outras necessárias para a existência deste lugar tão especial.

A título de curiosidade cerca de 80% das gentes que vem visitar a Terramada confessam desejar aqui viver ou viver desta forma algures, mas confessam também não terem condições pessoais para o fazer justificando-se com limitações de ordem essencialmente prática, ou seja o saber viver no campo e principalmente aqui na Terramada requer conhecimentos e capacidades práticas reais. Inevitavelmente a lacuna nestas capacidades multidisciplinares leva à precariedade económica e por conseguinte à impermanência.
Muito mais haveria por relatar sobre a experiência da Terramada e seus actuais residentes, mas não cabe a este pequeno boletim tal empreendimento também megalómano.

Dia 25 de Fevereiro 2007 pelas 15 horas está agendada a Assembleia Geral da Terramada, onde se espera a comparência dos órgãos sociais e os sócios, para encerramento oficial da TERRAMADA - Associação de Permacultura para a Recuperação de Solos Desertificados.

Por decisão dos residentes da Terramada esta última Assembleia Geral será aberta a todos os interessados sejam sócios ou não, conhecidos ou desconhecidos. Será um encontro onde será apresentado um relatório verbal das razões mais detalhadas que levam ao encerramento, bem como o ponto da situação dos vários projectos e abordagens de toda a ordem que os residentes tem vindo a trabalhar nos últimos meses. Com esta abertura contamos poder esclarecer e enriquecer potenciais interessados em criar no futuro uma Ecoaldeia, Associação de âmbito ecológico ou projecto de Permacultura, com informação valiosa da experiência dos Terramantes.

"Partilhar os excedentes, aplicando limites ao consumo."

O FUTURO
Por decisão dos proprietários e com a concordância de Nelson Avelar (o único e último residente fixo actualmente) toda a quinta será disposta para venda dentro de pouco tempo.

Estão previstos alguns cenários para o futuro da quinta:
- A quinta pode vir ser adquirida por um particular (quase por certo estrangeiro) que poderá apreciar o trabalho feito e manter a actual área florestada e equipamentos, até eventualmente aumentar e melhorar o já existente, mesmo que não saiba o que é a Permacultura.
- A quinta pode vir a ser adquirida por uma instituição/associação (quase por certo estrangeira) que entenda e pratique Permacultura e deseje continuar activamente o trabalho até hoje realizado.
- A quinta pode vir a ser adquirida por um particular (quase por certo estrangeiro) que poderá desconfigurar completamente o que existe e perder-se-á assim 20 anos de regeneração.

Resta aguardar pela melhor situação que surja quer para os ex-residentes quer para os terrenos. Os próximos meses serão provavelmente decisivos para o futuro das centenas de árvores, arbustos e plantas diversas, animais e solo.

A quinta continuará visitável para particulares que já conheçam a Terramada mas também para quem ainda não conheça e deseje vir passar uns dias para relaxar, estudar e apreciar o que foi feito (antes que por algum motivo desapareça), aprender Permacultura, plantar árvores, nadar, comer os frutos das árvores, etc.

Recomenda-se aos formandos recentes dos cursos de Permacultura que ocorreram em Portugal nos últimos três anos que venham enquanto é possível à Terramada ver e aprender as técnicas utilizadas durante largos anos, algumas delas já maturas e com provas dadas da sua eficácia e sustentabilidade.

Não são mais aceites visitas de carácter oficial de escolas, associações, etc. (excepto as já agendadas previamente) que envolvam por parte dos actuais residentes da Terramada a organização de logística para os receber.

Indivíduos ou grupos que queriam visitar deverão contactar a Terramada previamente e suportar um custo por pessoa de 3 euros/dia (a unidade de troca interna de nome Terras, irá extinguir-se também) para as despesas de consumo de água e manutenção dos espaços livres para o acampamento destes.

A Terramada agradece profundamente a todos os que por aqui passaram, que de uma forma ou de outra deram o seu contributo para o sucesso possível deste lugar e destas gentes.

Dentro em breve será divulgado no website da Terramada e por E-mail o processo de venda do território com todos os detalhes inerentes.

A Terramada agradece a divulgação da venda que cada um de vós possa fazer, preferencialmente no sentido que possa levar a que este lugar possa continuar com a sua beleza natural mas também como um dos raros exemplos em Portugal (pelo menos) de como é possível se realmente quisermos transformar desertos em paraísos.

Com as actuais alterações climáticas e crescentes instabilidades político-económicas e sociais, lugares como a Terramada terão inevitavelmente de surgir (já ontem!) se quisermos sobreviver às mudanças drásticas que se avizinham. Tal só é possível se as gentes souberem largar pelo menos um pouco do seu individualismo e competitividade e reaprenderem a viver em tribos e em colaboração com a fonte fiável de tudo – a Natureza. Esperemos que não seja necessário uma catástrofe...”

Pela Terramada, Nelson Avelar
Fotos em: http://terramada.no.sapo.pt

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